Geral 20/05/2020 | 02:25por FM Andrey Terekhov

Daniil Dubov: O Cara das Novidades

O GM russo Daniil Dubov, 24 anos, é um jogador cujo impacto no xadrez moderno já é maior que seus resultados na carreira até o momento. Tanto que o próprio campeão mundial o convidou para trabalhar em sua equipe no último match pelo campeonato mundial (contra Caruana em 2018), e se refere ao russo como o responsável por vários de seus experimentos ousados recentes em aberturas. O próprio Dubov tem provado seu ponto no tabuleiro, como mostrou ao sagrar-se Campeão Mundial Rápido em 2018.Ele também venceu Magnus Carlsen no recém terminado Memorial Steinitz, e espera repetir o mesmo sucesso no Lindores Abbey Challenge. O MF Andrey Terekhov conta um pouco da carreira de Dubov como parte da campanha #HeritageChess.

Daniil Dubov | foto: Niki Riga

Daniil Dubov nasceu em 18 de Abril de 1996 em Moscow, e cresceu em uma família de enxadristas. Seu pai, Dmitry Dubov, era Candidato a Mestre, e seu avô, Eduard Dubov, foi um famoso árbitro e mais tarde presidente da Federação Moscovita de Xadrez.

Daniil aprendeu xadrez aos 6 anos e começou a frequentar um clube de xadrez local, onde conheceu seu primeiro treinador, Mikhail Ryvkin. Mais tarde ele começou a trabalhar com o MI Vasilij Gagarin. Antes do início desse torneio, eu tive a oportunidade de fazer uma entrevista com Dubov por e-mail, na qual ele contou que sua parceria com Gagarin dura até hoje:

Vasilij Gagarin ainda é um amigo muito próximo e às vezes me ajuda como segundo, o que obviamente significa que ele é uma pessoa muito importante pra mim e em minha vida. Ele definitivamente me influenciou muito como pessoa – inclusive no aperfeiçoamento do meu inglês, aliás.


À medida que os resultados de Dubov melhoravam, ele também começou a estudar com o GM Sergey Dolmatov, e depois com o GM Sergey Shipov. Dubov também trabalhou com Alexander Morozevich (Dubov recorda com carinho seus matches de blitz sem fim, com pequenas pausas para um chá, mas que poderiam durar até 24 horas) e depois também com Boris Gelfand – uma lista impressionante de treinadores e parceiros, que ajudaram Dubov a moldar seu próprio estilo, inimitável. Eu perguntei a Dubov quem o havia influenciado mais enquanto ele desenvolvia seu estilo, e ele respondeu:

Bem, é uma questão complicada. Eu não tenho ideia de qual deles influenciou mais meu xadrez, mas foi muito interessante trabalhar com todos eles, é claro... Eu acho que foi muito inspirador perceber que o xadrez é na verdade um jogo muito complexo e que há várias formas de jogá-lo. Sasha (Morozevich) e Boris (Gelfand) são pessoas totalmente diferentes com opiniões totalmente diferentes em várias coisas, também possuem estilos completamente diferentes no xadrez, mas ambos são grandes jogadores! Isso me fez perceber que na verdade eu não preciso jogar como ninguém para me tornar um jogador melhor, mas sim seguir melhorando para jogar e me preparar da forma que eu gosto.


Em uma entrevista recente para o chess24, Dubov também disse que se considera como um dos últimos produtos da Escola Soviética, pois cresceu aprendendo sobre os jogadores daquela época. Eles ensinaram Dubov a ler livros de xadrez e pensar por si mesmo, em lugar de confiar apenas em bases de xadrez e computadores.

Também ajudou o fato de Dubov crescer no epicentro do xadrez russo e em uma família de enxadristas. Em uma entrevista publicada na revista New In Chess em 2019, Dubov reflete sobre como isso o ajudou a evoluir:

Eu provavelmente não sei todos os detalhes, mas meu avô claramente estava por trás de várias oportunidades que recebi. Eu não me iludo achando que conquistei tudo sozinho. Algumas pessoas tiveram condições melhores, é claro, mas as minhas já foram bem acima da média, e tudo deu bastante certo.

É interessante o fato de que nossa geração (nascidos nos anos 90) era tão forte. Basta dizer que eu nunca venci o Campeonato Russo Juvenil (não tenho certeza se é isso ou qualquer campeonato russo de categoria)! Havia Arseny Shurunov, que venceu um Campeonato Europeu e dois ou três Campeonatos Russos. Eu tinha três ou quatro derrotas contra ele, com apenas uma vitória. Entretanto, ele era de Chelyabinsk, e eles não têm tantos torneios por lá, então eu nem sei se ele ainda joga, e ele claramente não se tornou um jogador profissional. Havia Darsen Sanzhaev, de Elista, que também venceu vários Campeonatos Russos e sempre me derrotava. Algo também não deu certo para ele. Eu poderia continuar citando exemplos, era de fato uma geração muito forte! Nem eu nem Vladimir Fedoseev podíamos realmente competir com esses jogadores, mas tivemos sorte de viver em Moscow e em São Petersburgo, então nosso desenvolvimento nunca foi interrompido. Meu ponto é, havia muita gente igualmente ou até mais talentosa que eu, que apenas não receberam apoio suficiente. Eu recebi todo esse apoio da minha família, e não poderia ser mais grato por isso.”


Ao mesmo tempo, o pai de Dubov tinha sérios receios sobre a viabilidade do xadrez como profissão, por isso estabeleceu algumas metas para seu filho. Se Daniil não alcançasse um determinado rating num tempo estipulado, ou se ele não conquistasse um título de mestre até certa idade, então talvez o xadrez não fosse a carreira certa pra ele. Entretanto, Dubov superou todas as expectativas se tornando Grande Mestre Internacional aos 14 anos, acabando com todas as dúvidas.

Em 2009, Dubov venceu o “Torneio das Jovens Estrelas Mundiais”, que é organizado anualmente na pequena cidade russa de Kirishi e já foi vencido em edições anteriores por jogadores como Nepomniachtchi e Karjakin. Por alguns anos Dubov competiu em campeonatos juvenis em nível nacional e europeu, mas ele rapidamente “graduou-se” para competições adultas. Abaixo, alguns de seus títulos mais importantes até agora:

  • Em 2012 Dubov terminou em segundo na Russian Higher League e se classificou para sua primeira Final do Campeonato Russo, na qual fez 4/9, perdendo apenas uma partida, aos 16 anos;

  • Em 2015 terminou empatado em primeiro lugar no Aeroflot Open com Ian Nepomnhiachtchi (o desempate – o número de partidas de preta – favoreceu Nepomniachtchi);Em 2016 Dubov foi 3º Lugar no Campeonato Mundial Blitz, confirmando sua enorme força em ritmos de jogo mais rápidos;

  • Em 2016 Dubov foi 3º Lugar no Campeonato Mundial Blitz, confirmando sua enorme força em ritmos de jogo mais rápidos;

  • Em 2017 Dubov conquistou outra medalha de bronze, dessa vez na Final do Campeonato Russo;

  • Em 2018 ele trabalhou como segundo de Magnus Carlsen. Esse trabalho certamente recompensou os dois lados, pois no fim do ano Dubov venceu o Campeonato Mundial Rápido!

Daniil Dubov sendo entrevistado após se tornar o Campeão Mundial Rápido em 2018 | foto: Lennart Ootes, official website

Em Janeiro de 2020, Dubov participou pela primeira vez do Tata Steel Masters, o torneio principal em Wijk An Zee, com uma forte performance, marcando 7 pontos (em 13 rodadas) e terminando em 4/5 lugar.

Em uma entrevista para a revista New In Chess após o torneio, Dubov mencionou que em Abril desse ano estava planejando escalar o Monte Kilimanjaro junto com seu segundo, Alexander Riazantsev, que é um montanhista experiente. Entretanto, uma semana antes da viagem, eles tiveram que cancelar seus planos devido à pandemia do novo Coronavírus.

Em vez do Monte Kilimanjaro, Dubov foi para Ekaterimburgo comentar o Torneio de Candidatos. Na verdade, Dubov permanece em Ekaterimburgo – Após o fim do Candidatos ele decidiu que a situação com o Coronavírus lá está menos complicada do que em Moscow.

Antes desse torneio, Dubov jogou com bom desempenho o Memorial Steinitz Online. Ele derrotou Magnus Carlsen na primeira volta e estava liderando o torneio no fim dos dois primeiros dias, mas na reta final não conseguiu manter o ritmo do campeão mundial. Entretanto, terminar em segundo em um torneio tão forte é sem dúvida um grande resultado para Dubov.

“Jogar como Dubov”

Nos últimos anos o rating clássico de Dubov tem pairado nos 2700 – uma marca que ele já cruzou algumas vezes. Seu rating clássico é o mais baixo nesse torneio, mas no rápido ele é no mínimo igual aos outros participantes. Como ex-Campeão Mundial Rápido, Dubov certamente inspira respeito, então nenhum de seus oponentes deve subestimá-lo.

Daniil was unbeaten in 15 games in the 2018 World Rapid Championship

Eu questionei Dubov se há algo sobre os ritmos rápido e blitz que o funciona melhor para ele do que os controles de tempo mais longos, e recebi uma resposta reveladora:por

Eu gosto de todos os ritmos, mas xadrez clássico definitivamente importa mais pra mim. Eu não acho que eu sou um jogador tão melhor no rápido ou no blitz, mas sim que xadrez clássico é mais uma questão de jogar sempre os melhores lances, enquanto blitz e rápido apenas exigem uma boa intuição e cálculo.

Acho bastante natural que vários jogadores fortes começaram a mostrar bons resultados no rápido e no blitz mais cedo que no xadrez clássico. E não é só em se tratando de jogadores como Alireza (Firouzja) ou Hikaru (Nakamura), pois até mesmo Magnus (Calrsen) venceu o Campeonato Mundial Blitz antes de se tornar Campeão Mundial no ritmo clássico.

Eu ainda tenho um caminho longo pela frente até me tornar um dos melhores no xadrez clássico, mas eu realmente sinto que sou capaz de chegar lá. Na verdade, eu não acredito que você possa ser forte no rápido e no blitz sendo um jogador fraco em geral, o clássico apenas requer mais tempo, trabalho e várias outras coisas.”

Dubov é um “canhoto”, tanto na vida (ele é literalmente canhoto) como no xadrez (NT: um trocadilho que não faz tanto sentido em português, mas tenta passar a ideia de que Dubov é um tipo de exceção, como pessoas canhotas, que são minorias.). Seu estilo de jogo tem mudado ao longo dos anos, mas sempre foi especial. Dez anos atrás, seu então treinador, o GM Sergey Shipov, comparou o estilo de Dubov com o de Petrosian. Hoje Dubov joga um tipo diferente de xadrez – agressivo, mas ainda assim peculiar. Eu perguntei a Dubov se ele transformou seu estilo conscientemente, ou se essa agressividade sempre esteve lá:

Na verdade eu costumo pensar que (a agressividade) sempre esteve lá, mas em alguns momentos eu trabalhei com alguns treinadores (incluindo Shipov) que preferiam um estilo de jogo mais sólido, e tentaram me fazer jogar daquela forma. Shipov meio que conseguiu isso, embora eu ainda jogasse a (Siciliana Clássica, Variante) Rauzer como minha abertura principal de pretas. Mesmo assim, é meio estranho ver meus resultados usuais de +1 =8 -0 entre 2011-2014 (Por empatar tantas partidas)

Poucos jogadores podem adotar o tipo de xadrez agressivo, quase imprudente, que é a marca registrada de Dubov hoje em dia. Suas partidas nunca são chatas nem entediantes, então eu não ficaria surpreso se nos próximos anos a frase “Jogou como Dubov” entrasse para o vocabulário enxadrístico, da mesma forma que as pessoas dizem “Jogou como Tal” há 60 anos!

Graças a esse estilo atrativo, as partidas de Dubov regularmente aparecem nas páginas das revistas de xadrez, mesmo quando ele não termina no topo da tabela dos torneios. Vejamos alguns exemplos:

Dubov – Svane
European Team Championship, Batumi 2019


As brancas sacrificaram uma torre, e acabaram de repetir jogadas com Dh3+ seguido de Dh5+, para ganhar algum tempo no relógio.

29.Be6+! Rc6?

O erro decisivo. As pretas deveriam ter eliminado alguma peças do ataque com (variante), e elas ainda estão lutando. Em vez disso, o rei preto embarca em uma jornada que acabará sendo sua última. Entretanto, para alcançar seu objetivo as brancas terão que encontrar uma série de jogadas únicas. Qualquer erro pode levar ao resultado oposto!

30.Df3+ Rb5 31.Bxc4+! Ra5 32.Dd5+ Bc5

32...c5 33.b4+ Ra4 34.Ra2, ameaçando 35.Dc6 com mate, e agora:

a) 34...Bd7 não ajuda: 35.Db7 a5 36.Dxb6+–  
b) As pretas podem prevenir Dc6+ com 34...De8 mas agora o golpe vem do outro lado: 35.Ce4!+-

33.b4+ Ra4 34.Dg2!

Botvinnik dizia que lances “longos” de recuo com a dama são notoriamente difíceis de considerar, mas esse claramente não é um problema para Dubov.

34...Bxb4

Eu me pergunto se após 34...Bf5+ 35.Ra2 Tg6 Dubov teria jogado outro lance de recuo com a dama, 36.Db7!, ou se ele teria jogado a variante mais longa, porém mais humana 36.Bb3+ Rb5 37.a4+ Ra6 (37...Rxb4 38.Dd2#) 38.Bc4+ b5 39.Bc4+ b5 40.Bxb5+ Rb6 41.bxc5+ Dxc5 42.dxc5+ etc.

35.Dc6+ Rxa3

O ápice do ataque branco, que merece outro diagrama:


36.Bb3!!

A única jogada ganhadora – na verdade, qualquer outro lance perderia: Por exemplo, 36.Te2? Bd2! 37.Txd2 Db4+ 38.Rc2 Bf5+ e de repente são as pretas que passaram à ofensiva.

Nos comentários da partida, Dubov menciona que fez esse lance com apenas 10 segundos restantes no relógio!

36...Bd7

36...Rxb3 levaria ao mesmo mate da partida, só que uma jogada antes.

37.Dc1+ Rxb3 38.Dc2+ Ra3 39.Da2#

Um arremate fantástico. Eu recomendo fortemente aos leitores conferirem os comentários de Dubov sobre essa partida na revista New In Chess (edição 8/2019) e repassar a partida desde o começo. Os fogos de artifício começaram no lance 8!

Para outra vitória notável de Dubov eu darei apenas um diagrama e uma jogada de amostra:

Dubov – Giri
FIDE Grand Prix, Moscow 2019


19.0–0–0!

Nos comentários dessa partida Dubov menciona que essa jogada – ou melhor, o conceito relacionado a ela – foi tão tentador, que foi a razão pela qual ele deixou passar uma continuação mais forte na jogada anterior. Os fãs do xadrez agradecem por isso, pois não é sempre que vemos uma posição tão bonita uma posição tão bonita e complicada em uma partida de GM's

Dubov é também conhecido como um inovador das aberturas. O exemplo mais recente é a “Tarrasch Dubov”, a variante que ele introduziu na prática magistral no Grand Prix 2019 em Moscow contra Nakamura, e empregou em várias partidas posteriores. Essa ideia recebeu o selo de aprovação de Magnus Carlsen, que a usou duas vezes no Mundial Rápido 2019. O GM holandês Erwin L’Ami recentemente publicou um curso especial sobre a “Tarrasch Dubov” no Chessable. O debate teórico na linha continua.

Alguns dias atrás Daniil Dubov jogou a uma partida blitz que mostrou todos os aspectos de seu talento. A partida começou com uma novidade interessante na abertura, levou a uma posição incomum com iniciativa, e foi concluída por um ataque inspirado. 

Mamedyarov - Dubov 
FIDE Online Steinitz Memorial 2020

1.d4 d5 2.c4 e6 3.Cc3 c6 4.e3 Cf6 5.Cf3 Cbd7 6.Dc2 

Essa posição já surgiu em mais de 20.000 partidas, ou pelo menos é o que diz a base de dados; em blitz, pode ter sido jogada já umas cem mil vezes. E mesmo assim, ninguém nunca fez o lance de Dubov aqui!

6...a5!? 


As pretas estão preparando uma expansão na ala da dama - dxc4, seguido por
b7–b5–b4 e Bb7.Nesse sentido, a7–a5 pode ser útil. 

Curiosamente, eu encontrei duas partidas nas quais essa posição ocorreu... com a vez das pretas! Em ambos casos a posição surgiu após a ordem de lances 4.Db3 a5!? , com as brancas voltando a dama pra c2.

Em sua revisão dessa partida para o chess24, o GM Pascal Carbonneau observou que outro benefício de 6...a5 é que previne a ideia favorita de Mamedyarov nessa linha, 7.g4. Na linha principal, 6...Bd6 7.g4, o peão em g7 não está defendido, e 7...Cxg4 8.Tg1 lleva a uma posição complicada, que encaixa perfeitamente no estilo de Mamedyarov.

7.h3 

O imediato g2–g4 não funciona, então Mamedyarov decide prepará-lo. Como nós veremos, esse plano vai dar errado.

Se as brancas jogam 7.Be2, então as pretas podem responder 7...dxc4 8.Bxc4 b5 e dizer que ganharam um tempo. É uma questão aberta o quão útil a7-a5 é, mas Grandes Mestres normalmente não gostam de dar tempos para o adversário.

De toda forma, poucas rodadas depois Dubov repetiu 6...a5 e Bu Xiangzhi seguiu com esta linha. A partida continuou com 9.Be2 Bb7 10.0–0 Tc8 11.Td1 b4 12.Ca4 c5 13.dxc5 Be4!? 14.Dc4 Bd5 15.Df4 Be7 16.b3? Ce4! De repente a dama branca está em perigo, já que as pretas estão ameaçando prendê-la com g7–g5, h7–h5 etc. 17.h4 Bf6 18.Tb1 e aqui as Pretas poderiam ter assegurado uma vantagem com o corajoso 18...Cdxc5 19.Bb5+ Rf8, ou com o simples 18...0–0.

7...Be7 8.g4 dxc4 

Parece que as Pretas perderam a batalha pelo tempo, mas o enfraquecimento das posição das Brancas é mais importante. 

9.Bxc4 b5 10.Bd3 b4 11.Ce4 Cxe4 12.Bxe4 Bb7 

De repente as Pretas completaram o desenvolvimento, enquanto que o Bispo de casas pretas das Brancas não tem nenhuma perspectiva, e o rei branco não possui um refúgio seguro. Este tipo de posição é muito difícil de defender em uma partida de controle de tempo clássico; no blitz é quase impossível.

13.Cd2 Tc8 14.a3


14...0–0! 

Uma decisão corajosa. As Pretas sacrificam um peão com tempo para completar o desenvolvimento. 

O computador insiste que 14...Ba6 ou 14...h5 são mais fortes, mas depois de alguma deliberação, ele aprova o lance da partida também. Ele certamente ganha alguns pontos extras por seu valor estético!

15.Bxh7+ Rh8 16.Be4 Ba6 17.Bd3 Bb7 18.Be4 Cf6 

Bb7–a6–b7 resultaria somente em uma repetição,então Dubov muda para um plano diferente.

19.0–0?! 

Um outro passo em direção ao abismo - permitir o bispo de b7 dominar a grande diagonal sem oposição irá custar a partida para as Brancas. Mamedyarov deveria estar preocupado com 19.Bg2 Ba6,e a troca dos bispos só trabalharia a favor das Pretas: 20.Bf1 Bxf1 21.Rxf1 c5 No entanto, isto provavelmente era o menor dos males.

19...Cxe4 20.Cxe4 c5!? 

Os engines pedem por 20...f5, mesmo permitindo 21.Cc5 Bxc5 22.Dxc5 e o bispo de b7 fica bloqueado. Acontece que após 22...Dh4! os peões das Brancas na ala do rei irão cair, embora ainda houvesse algumas chances práticas depois de 23.De5 fxg4 24.Dg3 Dxg3+ 25.fxg3 Txf1+ 26.Rxf1 gxh3. De toda maneira, a linha inteira é muito aleatória e pouco natural para uma partida de blitz.

21.Cxc5 Bxc5 22.dxc5 f5! 23.axb4 Bf3! 

Um lance clássico de bloqueio. Os peões não importam - as Pretas estão jogando para mate!


24.Rh2? 

Tentando se preparar para Dh4, mas agora o golpe decisivo vem por outro lado.

A única maneira para as Brancas sobreviverem era 24.Dc3! fxg4 25.e4! Dh4 26.De5! Boa sorte em tentar achar isso em uma partida de blitz!

24...Dc7+ 25.Rg1 fxg4 26.hxg4 De7 Ameaçando Dh4–h1# 27.Dg6 Tf6 As Brancas abandonaram. 

Uma obra-prima de blitz de Dubov!

O atirador de elite

Dubov também se destaca nas conversas longe do tabuleiro de xadrez. Suas opiniões sobre os tópicos destacados do dia nem sempre são comuns, mas ele não se esconde atrás das respostas educadas padrão, preferindo contar as coisas como as vê.

Um dos tópicos pelo qual Dubov  é apaixonado é sobre a luta contra trapaça no xadrez. Cinco anos atrás Dubov estrelou um vídeo que o GM Vlad Tkachiev acompanhou com um artigo Como me tornei um trapaceiro, o qual era metade paródia, metade sinal de alerta. Naquele momento, não criou o burburinho que seus autores provavelmente esperavam. Hoje, no entanto, parece ainda mais relevante, pois os torneios presenciais desapareceram e o jogo online se tornou a única opção.

Dubov também não se esquiva de compartilhar sua opinião sobre política, seja sobre jogar xadrez na Arábia Saudita ou sobre o status da Península da Crimeia. Isso é altamente incomum para um russo. A maioria de nós está se censurando automaticamente (acontece quase no nível subconsciente), mas não Dubov.

Perguntei a Dubov se essa abertura já causou problemas a ele. Sua resposta:

Eu não acho que isso tenha se tornado um problema real, mas sim, acho que algumas pessoas queriam me processar depois de uma das minhas entrevistas. Ainda assim, isso não foi muito longe, embora eu não estivesse animado com isso, obviamente. Em geral, existem muitas vantagens e desvantagens dessa forma de se expressar, mas, antes de tudo, parece natural dizer o que você pensa e, em segundo lugar, tenho a tendência de pensar que pode ser ainda mais rentável a longo prazo.

Você pode concordar ou discordar das opiniões de Dubov, mas sua honestidade é certamente admirável.

Planos futuros

No final da minha entrevista por email, pedi a Daniil Dubov para responder a algumas perguntas sobre seus planos:

Você planeja escrever um livro  you plan to write a book of your best games sometime in the future? (I am sure it would be a hit!)

Bem, parece um pouco cedo demais. Acho que Daniel Naroditsky escreveu um livro sobre finais aos 12 anos, mas não me sinto inteligente o suficiente, mesmo tendo 24 anos.

Há alguns anos atrás você disse em uma entrevista que todos os  jogadores de xadrez podem ser divididos em duas categorias – aqueles que ainda sonham em ser Campeão Mundial e aqueles que não o fazem mais. Ao 24 anos, você ainda se coloca na primeira categoria?

Certamente! E não me vejo perdendo a esperança pelo menos até que tenha 40 anos após ganhar o Mundial Rápido :) Mas na verdade, não acho que faça sentido jpgar xadrez apenas para ganhar dinheiro. Então, eu gosto de jogar algumas partidas interessantes e ainda sinto que posso melhorar muito.

Quais são seu objetivos nos próximos 2-3 years? (rating, classificação para os Candidatos etc.)

Eu realmente não me importo com o rating, mas é meio que necessário para jogar os supertorneios. O objetivo real é chegar aos Candidatos mais cedo ou mais tarde e todo o resto são apenas formas diferentes para chegar lá.



FM Andrey Terekhov

Andrey Terekhov (@ddtru) , cresceu na Rússia, viveu em muitos países e atualmente reside em Cingapura. Seus melhores resultados no tabuleiro são vitórias no Munich Open (2008), Memorial Nabokov em Kiev (2012) e o 2º lugar no Washington Open (2018). Ele é o autor do Curso da Defesa dos Dois Cavalos no Chessable. Nos últimos anos, Andrey escreveu um livro sobre Vasily Smyslov, com publicação prevista para o final de 2020.


Como você chegou até o xadrez? Compartilhe suas experiências nos comentários ou usando a hashtag #HeritageChess!

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